Quando Arthur Carvalho da Costa veio ao mundo, no dia 4 de agosto de 2006, ele cabia na palma de uma mão. Media 23 centímetros e pesava 385 gramas. O primeiro presente que ganhou do pai foi um chaveiro no formato de uma sandália em miniatura. O “calçado” ficou até grande em seu pé direito, que, com apenas 3,7 centímetros, era menor que metade do tamanho médio do pé de um recém-nascido.
O bebê nasceu com 25 semanas de gestação. Seus pais, Paulo Pinto e Ana Paula de Carvalho, estavam numa consulta com o obstetra Paulo Gallo, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, quando ele identificou um arriscado quadro de pré-eclampsia na gestação e pediu que o casal fosse dali para a Clínica Perinatal, em Laranjeiras, para a realização de exames. Ana Paula foi internada, e Arthur veio à luz no dia seguinte.
Foram necessários mais quatro meses de internação, com empenho de dezenas de profissionais de saúde, até que, no dia 7 de dezembro de 2006, Arthur deixou o hospital pesando cerca de seis vezes mais que ao nascer. Nesta segunda-feira, 17 de novembro, Dia Mundial da Prematuridade, a família e a equipe da maternidade festejam a saúde do ex-paciente, graças a toda aquela mobilização.
Hoje, Arthur tem 19 anos vividos sem nenhuma complicação decorrente de seu parto. Ele se formou no ensino básico do Colégio Pedro II e tem um canal de YouTube, o Arthur FC Games.
– Somos muito tementes a Deus e sempre acreditamos que daria tudo certo – relembra o pai do menino. – As primeiras 72 horas eram as mais importantes. Arthur precisava ganhar peso. Foram dias de muita expectativa, mas mantivemos a fé. Quando podíamos entrar na UTI neonatal, a gente conversava com ele. Eu dizia, “olha, queremos levar você para casa, seu irmão está te esperando”.
O nascimento do menino motivou uma nota na coluna de Ancelmo Góis, no Jornal O Globo. Dias depois, uma reportagem no mesmo jornal informava que “o menor bebê nascido vivo no Brasil” tinha chegado ao sétimo dia de vida. “Ele tem o pé mais lindo que eu já vi”, disse a mãe, na época. “A gente comemora todos os dias a vida do Arthur”, contou o pai, segundo a reportagem.
Desde o parto do rapaz, outros bebês nasceram ainda mais leves do que ele. Em 2023, o “Fantástico” contou a história de Emanuelly, que tinha 335 gramas 25 centímetros após o parto, feito na 26ª semana de gestação, no Hospital Municipal Vila Santa Catarina, em São Paulo. Cinco meses depois, lá estava a pequena, com 2,340 kg e 43 centímetros, saindo da unidade sob os cuidados da família.
A força de Arthur e as orações dos pais, católicos fervorosos, não podem ser subestimados de forma nenhuma. Mas casos de bebês que nascem tão prematuros e sobrevivem para virar reportagem em jornal são possíveis, em grande parte, graças aos avanços da medicina neonatal. Se o filho de Ana Paula e Paulo tivesse nascido, digamos, dez anos antes, sua história poderia ter sido triste.
Assim que foi tirado da barriga de sua mãe, o menino recebeu a nota 1 na escala Apgar, que mede a saúde do recém-nascido com notas de 1 a 10. Nos primeiros instantes, a equipe médica injetou nele uma substância chamada surfactante, para impedir o colapso de seus ainda muito delicados alvéolos pulmonares. Cinco minutos depois de nascer, ele já tinha alcançado a nota 5 na escala Apgar.
Arthur ficou com dois cateteres no umbigo. Um levava nutrientes fundamentais para o menino ganhar peso. O outro para viabilizar os muitos exames que precisavam ser feitos para monitorar sua saúde.
Nos cinco meses em que Arthur ficou na Perinatal, sob os cuidados do pediatra Jofre Cabral, dezenas de bebês entraram e saíram da UTI. Quando chegou sua vez, ele media 43,5 centímetros, tamanho pequeno mesmo para um recém-nascido, mas os exames indicavam que estava bem. Graças ao tratamento que o menino recebera, não havia nenhuma complicação deixada pelo parto prematuro.
Minha mãe me disse que, por eu ter nascido prematuro, tinha muitas chances de desenvolver complicações, mas nunca tive nada – orgulha-se Arthur. – A única coisa que tive foi uma retinopatia, que operei quando ainda pesava 1kg. Acho que minha mãe tem razão quando diz quem a minha história foi mesmo um milagre.
Leia também
Fonte: Mais Goiás










