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Empresária goiana muda vidas ao valorizar cabelos afros naturais

Dia da Consciência Negra

Com quase três décadas de carreira, a cabeleireira goiana virou referência ao defender o cuidado natural dos cachos e construir um negócio alinhado à identidade e à representatividade.

Kira parou de alisar cabelos e há 30 anos ajuda pessoas a recuperarem a autoestima com seus cabelos naturais (Foto: Ageu Rosa)

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A trajetória de Kira Barros não começou com certezas, começou com questionamentos. Antes de se tornar uma das maiores referências em cabelos crespos e cacheados em Goiás, premiada e reconhecida pela técnica e pelo cuidado com fibras afro, ela atuava de forma oposta ao que defende hoje: passava os dias alisando cabelos que tinham nascido para serem naturais. O ponto de inflexão veio de uma forma inesperada e marcante – aos preparativos do casamento da irmã. Um procedimento químico falhou, o cabelo quebrou e, no choque daquele momento, Kira percebeu que não fazia sentido continuar tentando modificar o que não precisava ser moldado. Ali nascia uma virada profissional e pessoal.

Naquele período, ela dividia o tempo entre o trabalho em uma confecção, que financiava sua faculdade de Estética, enquanto realizava atendimentos pontuais. Mas a experiência com a irmã provocou uma reorganização interna: era hora de assumir o propósito de valorizar o que é natural. A partir daí, mergulhou de vez na carreira. Convencer as clientes, porém, não foi simples. Muitas resistiam à própria textura, fruto de anos de referências estéticas limitadas. Kira seguia insistindo, educando, mostrando possibilidades, fio por fio.

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Representatividade: uma oportunidade de negócio

A decisão mais ousada veio logo depois. Ela saiu do emprego, juntou o pouco que tinha e montou um salão no fundo de casa, no Setor Criméia Leste, Região Norte da capital. Sem público formado, sem estrutura ampla, mas com uma convicção absoluta: construir um espaço que respeitasse a identidade do cabelo crespo e cacheado.

Para fortalecer o negócio, buscou apoio no Sebrae. Afinal, empreender para um nicho que ainda carrega lacunas de representação exige técnica, comunicação clara e estratégia. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 94% dos consumidores negros não se sentem representados pelos produtos que consomem, um dado que revela, ao mesmo tempo, um problema e um mercado cheio de potencial.

Pesquisa revela que mais de 90% do público negro não se sente representado por produtos do mercado (Foto: Ageu Rosa/Mais Goiás)

Produtos e exportação

Especialistas do Sebrae reforçam que entender a “dor” do cliente e alinhar o produto à necessidade real são etapas fundamentais para que negócios desse segmento prosperem. Em Goiás, a presença negra no empreendedorismo é ainda mais expressiva: 57% das empresas do estado são lideradas por pessoas negras, segundo o Sebrae Nacional. E, dentro desse ambiente, Kira se destaca pelo foco na diferenciação.

Hoje, 28 anos após abrir seu primeiro salão, ela mantém um negócio sólido, ampliou sua atuação e criou uma linha própria de produtos para tratamento da fibra capilar, que já é exportada para outros países. E segue firme nos princípios que a guiam desde o início: não realiza química de alisamento, mesmo quando isso significa perder clientes.

Para ela, essa coerência é o que explica a força da marca construída ao longo de quase três décadas. E resume seu sentimento sobre a própria trajetória: “Minha maior realização de verdade foi Deus ter permitido que nós tivéssemos o Kira’s, porque Ele nos deu a responsabilidade de alcançar vidas”, afirma ela.

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Fonte: Mais Goiás

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