Bolsonaro deu entrevista à Reuters após ser alvo da Polícia Federal, que cumpriu dois mandados de busca em endereços dele
Em entrevista à Reuters nesta sexta-feira (18), após ser alvo de uma operação da Polícia Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que o sistema brasileiro prefere vê-lo morto a vê-lo preso.
“Eu preso vou dar problemas para eles. Não, eu já passei pela morte mergulhando, saltando de paraquedas e na facada. Eu acho que ninguém quer morrer, eu não sou um suicida. Eu não sou imortal. E sempre digo uma obviedade que, quando o ser humano consegue entender que ele é mortal, ele muda seu comportamento”, disse Bolsonaro.
O ex-presidente disse não ter medo da morte, por entender que já “passou por ela” quando sofreu um atentado a golpe de faca no dia 19 de agosto de 2018, durante a eleição presidencial.
Bolsonaro deu a entrevista depois que a PF cumpriu dois mandados de busca e apreensão no escritório do dele, localizado na sede do diretório nacional do PL, e na casa dele, que fica no Jardim Botânico, região nobre de Brasília (DF). Na casa de Bolsonaro, a PF apreendeu dinheiro em espécie, um pen drive e o celular do ex-presidente.
Ao chegar à sede do PL, Bolsonaro disse que nunca viu o pen drive que teria sido encontrado em um dos banheiros da residência. O ex-presidente insinuou que o item poderia ter sido plantado pelos investigadores.
Bolsonaro e a provocação do governo
Horas depois da operação da Polícia Federal (PF) que resultou no cumprimento de mandados de busca em endereços ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), nessa sexta-feira (18), a conta oficial do governo federal no Instagram (@govbr) postou um vídeo com a legenda “sextou com S de soberania”.
O post traz um vídeo que exalta o direito ao livre-arbítrio da nação brasileira diante das tentativas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de interferir em assuntos internos como o pix e o andamento da ação penal contra os acusados de tentativa de golpe de Estado (entre eles, Bolsonaro).
“Nosso país é soberano/você vai ter que respeitar/em nosso coração/é o Brasil em primeiro lugar/pra você saber/eu grito pro mundo inteiro/quem manda no Brasil/é o povo brasileiro”, diz a música publicada no post.
Os mandados cumpridos contra o ex-presidente nessa sexta-feira estão no âmbito de uma investigação que envolve também uma suposta articulação do deputado federal Eduardo Bolsonaro, radicado nos Estados Unidos, que afronta a soberania no país.
‘Atentado à soberania’
Bolsonaro terá que cumprir recolhimento domiciliar noturno e usar tornozeleira eletrônica. Ele também está proibido de se comunicar com embaixadores e diplomatas estrangeiros, se aproximar de embaixadas e não pode utilizar redes sociais. A motivação deriva das suspeitas de cometimento dos crimes de coação no curso do processo, obstrução à Justiça e ataque à soberania nacional.
O ataque à soberania nacional é uma acusação inédita para Bolsonaro, e foi o próprio ex-presidente quem sancionou a lei que incluiu a tipificação no Código Penal, em 2021. No artigo 359-I do texto, classifica-se como atentado à soberania a atitude de “negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o fim de provocar atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo”. A pena prevista é de reclusão de três a oito anos.
Na decisão de Moraes, são feitas menções a manifestações recentes de Donald Trump, publicadas em aceno ao ex-mandatário do Brasil. Em uma delas, a carta em que o presidente americano anunciou o tarifaço sobre produtos brasileiros é descrita como “atentatória à soberania nacional”.
No documento, o magistrado relata o envio de cartas por Trump com acenos a Bolsonaro, movimento iniciado na segunda-feira com uma manifestação em que o presidente americano se referiu ao julgamento da trama golpista como “uma caça às bruxas”.
O ministro citou, ainda, uma frase de Machado de Assis, segundo a qual “a soberania nacional é a coisa mais bela do mundo, com a condição de ser soberania e de ser nacional”. Imortal da Academia Brasileira de Letras, o escritor foi um expoente do realismo literário que viveu entre 1839 e 1908, tendo publicado a maioria de suas obras no final do século XIX.
(Por MAISGOIÁS)